E um novo capítulo se inicia

Ontem eu enfrentei meus medos, pensei em mim e pedi demissão. Parece uma ação muito simples, e quem me dera se fosse, mas levei uns bons 4 meses ou mais para conseguir concluir essa decisão. Cresci em uma geração que viu os pais trabalhando 30 anos em uma mesma empresa, assisto uma outra geração que troca de emprego todo ano, e pertenço a uma geração que não quer nem uma coisa e nem outra.

Meu pai trabalhou na mesma empresa por 30 anos. Na cabeça dele, ninguém era bom o suficiente para fazer o que ele fazia. Meu pai trabalhava até tarde, nos finais de semanas, as vezes nos feriados e quase nunca, quase nunca mesmo, tirava férias. Lembro do orgulho que ele tinha em contar que começou a trabalhar com 14 anos (eu acho) e das pessoas sempre associarem ele com o nome da empresa que ele trabalhava. Era como uma tatuagem invisível que ficaria ali, para sempre.

Desde muito pequena assistindo tudo isso, eu pensava, não acredito que eu queira isso para minha vida. E depois de me mudar para a Austrália e conhecer uma nova forma de vida, eu concluí que definitivamente isso não era para minha vida.

Mas essa decisão nunca me fez ser irresponsável ou pensar que exsitira trabalho em qualquer lugar, ainda mais eu que adoro trabalhar, em qualquer coisa, acredito que todos os trabalhos no mundo sempre vão trazer um aprendizado diferente. Também gosto de me ocupar, acho que sempre há algo bom que a gente possa estar fazendo para os outros, nós mesmos ou para a humanidade.

Porém, existe um limite que eu acredito ter aprendido nos últimos anos. Work life balance. Existe uma famosa frase que diz “trabalhe para viver e não viva para trabalhar”. Trabalho é bom, tem problemas como qualquer lugar, não é perfeito, assim como nós não somos, existe punições, existe injustiças, existe muita coisa, alguns mais do que outros. E é nesse ponto que eu tive que aprender a balancear, analisar, com cuidado, o porquê meu trabalho estava mudando minha forma de ser, de agir e de pensar.

Entrei em um estágio de esgotamento, cansaço (físico e mental), de levar trabalho para casa, passar noites sem dormir pensando no que esqueci de fazer, no que tenho que fazer, começava meu dia, contando os minutos para ver ele acabar. Não eu não queria e eu não poderia ser igual meu pai.

Foi então que com o tempo eu notei que sou somente um número, na Austrália, um número imigratório, que tanto faz como tanto fez. Entendi que tudo isso que eu estava passando não iria fazer nenhuma diferença para o meu trabalho, mas que estava me afetando em uma enorme escala na minha vida.

E foi então que o pau da barraca foi chutado. Devagar é claro e de uma forma educada e bem pensada. Apesar de estarmos em uma era, na qual saúde mental nunca foi tão importante, também noto que a falsa informação de que “o seu bem estar é importante para nós” nunca foi tão repetida com zero intenção.

Mudar assusta, dói, mas também alivia. Hoje, diferente de ontem eu não chorei mais, eu não me culpei, não me senti um cocô. Hoje eu me sinto uma pessoa nova, não tenho ideia do desafio que vem por ai, não quero adivinhar, mas eu estou preparada para o que o universo e Deus vem para me mostrar.  

2 thoughts on “E um novo capítulo se inicia

  1. Aurelio123 says:

    Ana, que texto envolvente, pude sentir daqui sua sensibilidade, angústia e depois, uma leveza sem fim ao tomar sua decisão! É preciso muita coragem para tomar decisões difíceis, mas são elas que nos levam para o próximo nível. Que você continue firme e leve na sua jornada, pois muitos outros capítulos ainda virão! Sucesso sempre!

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